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terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Autoconhecimento na Educação Positiva

O pensamento do filósofo grego Sócrates (469-399 a.C.) marca uma reviravolta na história humana. Até então, a filosofia procurava explicar o mundo baseada na observação das forças da natureza. Com Sócrates, o ser humano voltou-se para si mesmo. Sua preocupação era levar as pessoas, por meio do autoconhecimento, à sabedoria e à prática do bem.

Quando Sócrates, ouviu de seu amigo Querofonte que o oráculo do templo de Apolo o considerara o homem mais sábio da Grécia, resolveu examinar a afirmação. Chegou à conclusão de que não era digno da honraria e proferiu a frase pra lá de conhecida: "Só sei que nada sei." Para ele, a verdadeira sabedoria seria o autoconhecimento, capaz de livrar a humanidade de falsos conceitos. Sócrates acreditava que teria recebido, em um certo momento de sua vida, uma missão especial do deus Apolo, Apologia, a defesa do logos apolíneo "conhece-te a ti mesmo". Portanto, sábio é aquele que admite sua própria ignorância e, assim, se torna consciente de suas verdades, podendo questioná-las, aceitá-las, rejeitá-las ou ajustá-las à novas realidades.

Para educarmos com carinho, amor e limites, antes de mais nada, precisamos ter consciência de quem somos, conhecer nossas virtudes e limitações, frustrações e expectativas, em relação a própria vida e em relação aos nossos filhos. Muitas vezes, de maneira equivocada, considerados a continuação de nós mesmos. Por mais que, racionalmente, acreditemos que não colocamos expectativas e frustrações pessoais na relação com eles, emocionalmente, depositamos nos filhos tanto nossas conquistas quanto nossas frustrações, sem nos darmos conta disso!

Já paramos para pensar que estilo de pais tivemos? Que estilo de pais somos? Há longo tempo psicólogos do desenvolvimento vem investigando o impacto do estilo parental no desenvolvimento das crianças. Durante os anos 60, a psicóloga Diana Baumrind conduziu estudo com mais de 100 crianças pré-escolares. Observando-as em seus ambientes naturais, entrevistando os pais e utilizando outros métodos de pesquisa, identificou-se quatro dimensões do estilo parental;

- Estratégias disciplinares
- Carinho e cuidado
- Estilos de comunicação
- Expectativas de maturidade e auto-controle

Baseando-se em tais dimensões identificou e descreveu-se quatro estilos parentais  principais:

1. Autoritário (muito limite e pouco afeto)
Neste estilo de educação, espera-se que a criança siga estritamente as regras estabelecidas pelos pais. Falhas em seguir tais regras, frequentemente, resulta em punição. Pais autoritários falham em dar explicações sobre as razões pelas quais tais regras foram estabelecidas. Se são questionados, costumam responder “porque EU estou dizendo para fazer isso!”. De acordo com Baumrind, estes pais “are obedience- and status-oriented, and expect their orders to be obeyed without explanation" (1991). Isto é, são guiados pela obediência à hierarquia e esperam que suas ordem sejam obedecidas sem a necessidade de explicações.

2. Permissivo (pouco limite e muito afeto)
Pais permissivos, tem poucas demandas em relação a seus filhos. Raramente, disciplinam as crianças porque tem pouca expectativa de maturidade e auto-controle. De acordo com a autora, são pouco exigentes e evitam confronto com a criança. Permitem quase tudo ao filho que “precisa expressar seus desejos e emoções”, quem acaba estabelecendo as regras da casa. Frequentemente, se colocam mais como amigos do que como pais.

3. Negligente (pouco limite e pouco afeto)
Este estilo parental, é caracterizado por poucas exigências, baixa reciprocidade e pouca comunicação. Apesar destes pais atenderem as necessidades básicas da criança, são geralmente, desligados da vida do filho.

4. Participativo (muito limite e muito afeto)
Pais participativos, estabelecem regras bem definidas, as quais o filho deve seguir. No entanto, diferente do estilo autoritário, é mais democrático. Quando a criança não corresponde às expectativas, esses pais são carinhosos e condescendentes mais do que punitivos. São pais assertivos sem serem intrusivos ou restritivos. Seus métodos de disciplina são menos baseados em punição e mais no suporte e orientação. Eles desejam que seus filhos tenham auto-controle, sejam assertivos, responsáveis socialmente e cooperativos.

Qual o impacto do estilo parental no desenvolvimento da criança?

Estilos parentais autoritários, geralmente, desenvolvem crianças obedientes e proficientes, no entanto, com baixa auto-estima e pouco competentes socialmente.

Os pais permissivos contribuem para o desenvolvimento de crianças menos felizes com baixa tolerância à frustrações, pouca capacidade de auto-regulação e monitoramento. Estas crianças são mais suscetíveis a apresentar problemas frente à figuras de autoridade e no desempenho escolar.
Pais negligentes, se posicionaram no último lugar do ranking em relação a todos os domínios da vida. Essas crianças tendem a falta de controle emocional, resiliência, auto-estima, são menos competentes socialmente, muitas vezes, anti-sociais, apresentam maior pessimismo, tristeza e estresse.

Finalmente, pais PARTICIPATIVOS ficaram em primeiro lugar no ranking! Essas crianças tendem a ser felizes, capazes e resilientes.

Porque os estilos parentais diferem?

Algumas causas em potencial para estas diferenças incluem cultura, personalidade, tamanho da família, história de vida dos pais, nível socioeconômico, nível educacional e religião.

É claro que o estilo parental de cada um, pai e mãe, podem ser diferentes e se combinar formando um novo estilo, mesclando alguns dos descritos acima. Muitas vezes o pai tem estilo mais autoritário e a mãe mais permissivo e a mistura, eventualmente, leve a estilo semelhante ao participativo e assim por diante. O importante é termos consciência de como estamos nos comportando em relação a cada filho e porquê. Neste momento, podemos avaliar melhor nossas atitudes e ajustá-las de maneira adequada a cada situação.

No próximo mês, discutiremos o quinto princípio “Comunicação Positiva”. Você sabe se comunicar? Aí é que mora o perigo! No próximo artigo você vai saber como seu filho “ouve”o que você diz!

Referências e para saber mais:

Marcio Ferrari, Site da Revista Nova Escola; “O Mestre em Busca da Verdade”. http://revistaescola.abril.com.br/historia/pratica-pedagogica/mestre-busca-verdade-423245.shtml.

 Livro: Eduque com carinho. Equilíbrio entre amor e limites. Lidia Weber. Editora Juruá.

Psicóloga Kendra Cherry. http://psychology.about.com/bio/Kendra-Van-Wagner-17268.htm

Baumrind, D. (1991). The influence of parenting style on adolescent competence and substance use. Journal of Early Adolescence, 11(1), 56-95.

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